Manhã Super Difusora
Semana Nacional da Adoção destaca avanços e desafios do processo adotivo em Itapetininga

Nesta quinta-feira, 22 de maio, o programa Manhã Super Difusora falou de um tema de grande relevância social: a adoção. A entrevistada foi a advogada Eunice Granato, reconhecida em Itapetininga por seu histórico de atuação em casos de adoção e por integrar o grupo de apoio à adoção da OAB São Paulo. A conversa abordou os principais desafios, avanços legais e o papel das famílias e da sociedade civil nesse processo.
Eunice iniciou a entrevista contextualizando a importância da Semana Nacional da Adoção, que antecede o Dia Nacional da Adoção (25 de maio), instituído com o objetivo de promover a conscientização e a quebra de tabus sobre o tema. Segundo ela, até poucas décadas atrás, a adoção era um assunto evitado dentro das famílias e tratado de forma velada. “Hoje, com mudanças nas leis e na Constituição de 1988, que iguala todos os filhos perante a lei, o tema passou a ser debatido de forma mais aberta e respeitosa”, explicou.
Ao longo da entrevista, a advogada destacou que o Brasil avançou muito em termos legais e estruturais, mas que ainda há desconhecimento e preconceito em relação à adoção. “Infelizmente, ainda ouvimos expressões como ‘mãe adotiva’, como se houvesse uma diferenciação. Mãe é mãe”, enfatizou. Ela reforçou que o vínculo de afeto e responsabilidade é o que caracteriza uma família, e não a origem biológica.
Sobre o processo para quem deseja adotar, Eunice explicou que o primeiro passo é procurar o Fórum da Comarca de Itapetininga e manifestar o interesse. A partir disso, inicia-se o processo de habilitação, que inclui uma reunião de orientação psicossocial e jurídica conduzida pela equipe técnica da Vara da Infância. “É nesse momento que muitos casais têm a dimensão do que significa acolher uma criança para sempre. É filho com todos os direitos e deveres, como qualquer outro”, esclareceu.
Ela ainda elogiou o trabalho realizado pela Vara da Infância e Juventude de Itapetininga, destacando a atuação do juiz Dr. Alessandro Viana Vieira de Paula, do promotor Dr. Leandro e da equipe técnica do fórum, formada por assistentes sociais e psicólogos. “A Vara tem se destacado pela agilidade e sensibilidade nos casos de adoção. Já tivemos processos em que a liminar de guarda foi concedida com rapidez, permitindo a saída imediata da criança do abrigo”, contou.
Durante a conversa, a advogada explicou que só é possível adotar quando a criança está legalmente disponível, ou seja, após o rompimento definitivo do vínculo com a família de origem – o que ocorre por meio da destituição do poder familiar. “A lei é clara: pais que não cumprem seus deveres podem perder seus direitos. Isso visa garantir que a criança tenha a chance de viver em um ambiente seguro e acolhedor.”
Eunice também fez questão de desmistificar a ideia de que é preciso ter condições financeiras elevadas para adotar. “Não é necessário ter casa própria ou alto padrão de vida. O que se avalia é a capacidade de oferecer afeto, estabilidade emocional e estrutura mínima para o desenvolvimento da criança ou adolescente.”
Outro ponto abordado foi a importância da orientação emocional e psicológica para os adotantes. Ela destacou que muitos casais chegam ao processo de adoção com motivações diversas e que é fundamental que estejam preparados para acolher a história anterior da criança. “A adoção é uma transformação. É preciso acolher não só a criança, mas toda a sua trajetória até ali.”
A advogada também comentou sobre o trabalho realizado pela entidade GAAD (Grupo de Apoio à Adoção de Itapetininga), que realiza encontros mensais com famílias interessadas ou já inseridas no processo adotivo. Esses encontros, segundo ela, são essenciais para troca de experiências e fortalecimento de vínculos. “As reuniões são espaços de escuta e aprendizado. Muitas vezes convidamos famílias para apenas ouvirem, sem qualquer exposição. Isso já transforma.”
Finalizando, Eunice reforçou o apelo por mais apoio ao abrigo mantido pela entidade, que, embora receba verbas públicas, enfrenta limitações financeiras. “Precisamos do envolvimento da sociedade, seja como voluntário, doador ou apenas como alguém disposto a se informar. As crianças acolhidas têm necessidades amplas – de vestuário, alimentação, educação e, principalmente, afeto.”
A entrevista deixou claro que a adoção é mais que um ato legal – é um compromisso afetivo, social e ético. E que, apesar dos avanços, o tema ainda exige mobilização, conhecimento e empatia para garantir o direito de todas as crianças a crescerem em família.