Agronegócio
Brasil buscará ser maior exportador de algodão já em 2023, dizem produtores
O Brasil tem a chance de buscar ao menos uma copa em 2023, a de campeão mundial na exportação de algodão, à medida que prevê um aumento na área plantada, enquanto a pluma dos Estados Unidos deve lidar com uma competição local por área com outros cultivos mais rentáveis, de acordo com avaliações de produtores brasileiros.
Segundo eles, o cenário de liderança brasileira no mercado global poderia se confirmar caso os EUA reduzam algo como 30% do plantio, para dar lugar a lavouras concorrentes como milho, soja e trigo. É um corte drástico, mas não totalmente descartado.
A meta da liderança que um dia cotonicultores do Brasil acreditam alcançar pode ser, assim, antecipada. Já que o setor brasileiro diz estar preparado para avançar com a produção no próximo ano apesar de custos mais altos, para não perder mercados da Ásia, especialmente da China, conquistados recentemente.
Enquanto brasileiros estão começando o plantio da temporada 2022/23 (a ser colhida no ano que vem), os americanos estão terminando de colher o produto do mesmo ciclo e se preparando para 2023/24, com colheita no ano calendário de 2023, que deverá ser o campo em que a disputa será travada entre Brasil e EUA.
“Em curto período de tempo, seremos os maiores exportadores. E em um espaço de tempo um pouco maior, seremos também os maiores produtores. Talvez sejamos os maiores exportadores já no ano que vem”, disse o produtor Júlio Cézar Busato à Reuters, antes de passar a presidência da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) para Alexandre Pedro Schenkel, que dirigirá a entidade no biênio 2023-24.
China e Índia disputam cabeça a cabeça a posição de maior produtor global de algodão, segundo estimativas do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), enquanto Brasil vem em quarto, com cerca de metade do volume produzido pelos líderes, mas hoje ligeiramente atrás dos americanos, que tiveram problemas climáticos com a safra neste ano.
Na exportação, o Brasil é o segundo atrás dos EUA e prevê aumentar os embarques em mais de 22%, afirmou a Abrapa esta semana, confiante em uma produção próxima de recorde — a maior parte da pluma brasileira é de segunda safra, plantada após a colheita de soja no início de 2023, com Mato Grosso e Bahia puxando a área.
“Tenho certeza que no próximo ano teremos oportunidades. Enquanto os outros vão recuar, nós não vamos recuar”, disse Busato.
A produção da pluma deve crescer 18% em 2022/23, para quase 3 milhões de toneladas, segundo a associação, com uma recuperação da produtividade após alguns problemas climáticos no ciclo anterior, visto que a área plantada deve aumentar pouco mais de 1%.
“Matematicamente, deveríamos encolher a área de algodão”, disse ele, citando o custos de produção 27% mais altos após uma disparada dos valores de insumos em 2022. “Não faremos isso porque precisamos manter os mercados conquistados e a força de trabalho”, completou.
O caminho do algodão seria semelhante ao da soja, mercado em que o Brasil já superou os EUA como maior produtor e exportador há certo tempo, enquanto no milho alguns creem que a exportação brasileira também poderá ganhar liderança em breve, condição que dá mais peso à nação na formação de preço no mundo.
Segundo análise da empresa de consultoria e gestão de riscos hEDGEpoint Global Markets, a expectativa é de aumento de área de algodão no Brasil frente a 2021/22 e “plantio dentro da janela ideal”, considerando as condições climáticas atuais.
Na análise, o especialista David Silbiger não se alongou sobre o que isso poderia representar para o mercado global. Mas disse que o preço atual deixa o setor nos EUA “perto ou até abaixo do custo de produção, “enquanto as culturas concorrentes apresentam melhores possibilidades de margem”.
“Assim, embora seja cedo para quantificar quanto de área o algodão irá de fato perder (nos EUA), fica claro que esta cultura já começa em desvantagem”, declarou, citando que a fibra sofre a concorrência do milho, soja, amendoim, arroz e trigo.
China é “avenida aberta”
A cultura de algodão é das mais demandantes em investimentos, com uma colheitadeira custando cerca de 7 milhões de reais, e tais equipamentos precisam se pagar, o que também explica o fato de muitos produtores brasileiros se manterem fiéis à pluma para honrar os compromissos financeiros.
Para tempos bicudos, Busato cita a competitividade do algodão do Brasil, que conseguiria, segundo ele, o dobro da produtividade dos EUA, além de contar com certificações de qualidade e rastreabilidade, um diferencial que o concorrente do norte não tem na escala do produto brasileiro.
No campo externo, o Brasil já exportou mais de 700 mil toneladas para a China (em 2020/21), tanto quanto consome internamente, mas também embarca grandes volumes especialmente para países asiáticos, como Vietnã, Bangladesh, Paquistão, Indonésia e Malásia, além de Turquia.
Busato lembrou que na guerra comercial entre EUA e China, que teve o ápice há cerca de três anos, os chineses, taxados pelos norte-americanos, “abriram uma avenida (de mercado aos brasileiros)”, e entramos com um tratorzão de 500 cavalos”. E agora este mercado precisa ser mantido.
Segundo Schenkel, novo presidente da Abrapa, o país é o único que tem condição de atender a demanda adicional de algodão nos próximos anos, pois outros concorrentes teriam limites de terras para avançar. Além disso, disse ele, o Brasil “tem a vantagem de não ser inimigo de ninguém”.
“A receptividade que temos tido nas viagens à Ásia é sempre muito positiva.”