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Agronegócio

O futuro do agro no Brasil

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A cada quatro anos, o mês de setembro tem um significado diferente para brasileiros e brasileiras. Habitualmente nessa época, renovamos nossos votos e acendemos a chama da esperança pela transformação econômica, social e tecnológica da nação.

O futuro do agro no Brasil
Contudo, de 2018 para cá, a chegada das eleições também simboliza o acirramento de ânimos e a polarização entre campos eleitorais. Ao contrário de um campo fértil para o cultivo de ideias e colheita de resultados, as últimas eleições têm sido marcadas pelo ferro da clivagem e pelas vozes do silenciamento, deixando de lado a verdadeira essência da atividade política: o desenvolvimento de territórios, o fortalecimento da cidadania e a transformação de vidas.

Qualquer que seja o resultado, uma coisa é certa: o agro brasileiro, nos últimos anos, vem se consolidando como o principal setor econômico do país e aquele que mais estimula o crescimento do PIB brasileiro. Em 2023, esse cenário de expansão seguirá, ainda que possam pesar efeitos cambiais, climáticos e quaisquer outras turbulências causadas por fenômenos climáticos ou novos capítulos do conflito entre a Ucrânia e a Rússia.

Alguns dados recentes revelam a força do setor. Segundo o Ministério da Agricultura, o segmento bateu o recorte de exportações no primeiro semestre, somando mais de US$ 79 bilhões, um aumento de 26% em relação ao ano passado. A agricultura, a pecuária e a aquicultura ainda podem evoluir muito mais no que diz respeito ao acesso ao crédito rural, à obtenção de insumos e ao alcance da infraestrutura do transporte viário e de cabotagem. O agro brasileiro é, sem dúvida, um grande exemplo de como a tomada de decisões técnicas alinhada com os principais protagonistas do setor (investidores, empresários e produtores) se traduz em um grande negócio para o Brasil inteiro.

2020-2022: safra pandêmica e resiliência agro
Um estudo que ilustra bem o novo paradigma encampado pelo agro é a pesquisa PIB-Agro publicada pelo Cepea (Centro de Estudos em Economia da Aplicada) da Esalq/USP realizada no primeiro semestre. De acordo com o relatório, hoje o agronegócio representa 27,4% de participação no PIB brasileiro, ou seja, cerca de um terço de todas as riquezas produzidas e trabalhadas no país. O ranking abrange desde as atividades fim, aquelas que têm a natureza rural (produção de grãos, corte de bovinos, cifras da pesca) e as que ajudam na integração do agronegócio: transporte, alimentação e construção civil, por exemplo.

Em outras palavras, a atividade agrícola se tornou um importante multiplicador de valor para a cadeia produtiva brasileira, seja no mercado interno, promovendo o desenvolvimento de culturas locais; seja no ambiente externo, conquistando os primeiros lugares como exportador. Um protagonismo sólido que se manteve inabalado, mesmo em tempos de pandemia, cujo cenário de falta de insumos e baixo consumo se somou à chegada de fenômenos meteorológicos esmagadores.

Em tempo, a pujança do mercado de carnes e a liderança no escoamento de grãos não é mero golpe de sorte nem qualquer auspício divino: traduz-se em anos e anos de planejamento, trabalho e execução de políticas públicas. Segundo estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na metade deste ano, entre 1975 a 2020, por meio do uso de novas tecnologias, defensivos e fertilizantes agrícolas em todo o território, o agronegócio expandiu o rendimento de suas terras em 400%. Em outras palavras, o país multiplicou por oito a produção agrícola anual — com um crescimento médio de 3% ao ano.

À primeira vista, diríamos que a revolução do campo foi essencialmente beneficiada pela introdução de um maquinário moderno e técnicas disruptivas para o cultivo e colheita de resultados. Contudo, a partir de um olhar mais atento, perceberemos que a conta não fecha — literalmente falando. Afinal, um dos grandes problemas do setor sempre foi a dificuldade de acesso ao crédito agrícola e a enorme quantidade de taxas e impostos que incidem sobre a produção rural. Felizmente, mediante a encomenda de estudos mais aprofundados e o diálogo aberto entre vários setores da sociedade, novas diretrizes públicas vêm sendo implementadas para sanar esse gargalo histórico.

Nos últimos anos, governo e mercado se uniram para desenvolver políticas conjuntas para o desenvolvimento do campo. Ao primeiro agente, coube a renúncia de tarifas e o perdão de dívidas de vários agricultores que, a exemplo de 2021, nos períodos mais agudos da pandemia, puderam renegociar seus débitos em mais de 95% e assim garantir o momento certo de plantar, colher e vendar sua produção. O mercado foi um dos grandes propulsores para o aumento de liquidez agrícola. Um exemplo é o salto de 33% no financiamento total do plano de Safra 2022| 2023, cuja demanda de novos investimentos, puxada pelo setor privado, fez com que a atividade agrícola receba até R$ 340 bilhões ao fim do segundo semestre do próximo ano.

Garantido no presente e segurança no futuro
O campo é muito mais do que simples extensão de longas terras de pasto e cultivo, mas também o centro de grandes inovações tecnológicas. De acordo com a pesquisa a Mente do Agricultor Brasileiro, elaborada em agosto pela McKinsey & Company, 71% dos agricultores de todo país utilizam a tecnologia para se conectar com o mundo e incorporar mais tecnologias em lavouras e currais. Isso se traduz em uma independência da atividade a nível internacional, uma vez que os produtores, sobretudo os médios e pequenos proprietários, agora dispõem de melhores condições para investir no seu negócio, seja por meio de crédito facilitado ou mesmo de equipamentos e soluções de tecnologia para a gestão da produção.

Umas das grandes novidades advindas da ampliação das telecomunicações no foi, sem dúvida, a popularização das práticas ESG (voltadas à governança ambiental, social e corporativa). Segundo Nelson Ferreira, um dos pesquisadores do estudo da McKinsey, o país é líder na adoção de políticas sustentáveis com foco na agricultura regenerativa. Não apenas os produtores brasileiros estão pódio de os mais sustentáveis, com 80% fazendo uso do plantio direto em fazendas — técnica utilizada para recuperação do solo —, como servem de modelo de alto rendimento agrícola para o mundo, a despeito de utilizar menos terras, água e insumos que seus demais concorrentes no continente americano.

À vista dessas transformações no setor, fica claro que o agronegócio já se tornou um ativo perene dentro da economia brasileira que independe de situação, governo ou bandeira alçada no Planalto para pendurar seu percurso como motor econômico, deixando um legado pelos campos, rodovias, estradas, portos e cidades, transformando realidades. Flexível a crises, resiliente a mudanças climáticas e, sobretudo, um representante ativo da criatividade brasileira, o agronegócio é muito maior do que qualquer gestão, ideologia ou comportamento político. A atividade possui suas práticas e políticas para assegurar o presente e anunciar um futuro à sua moda: democrático, sustentável, rentável e em plena expansão.