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A crise que derrubou 1° ministro do governo Lula

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FáTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta quarta-feira (19/04) a saída do ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, primeiro integrante do primeiro escalão a cair, com menos de quatro meses de mandato.

Ricardo Cappelli, que foi interventor na segurança pública do Distrito Federal em janeiro e até o momento ocupava o cargo de secretário-executivo do Ministério da Justiça, assumirá interinamente o comando do GSI.

Gonçalves Dias apresentou o pedido de demissão ao presidente após o vazamento de imagens do circuito interno de câmeras de segurança do Palácio do Planalto mostrar que o ministro e sua equipe foram negligentes ou até mesmo colaborativos com bolsonaristas radicais que invadiram o Palácio do Planalto em 8 de janeiro.

As imagens foram reveladas pelo canal CNN Brasil.

“Inicialmente, ele caminha sozinho no terceiro andar do palácio, na antessala do gabinete do presidente da República. Gonçalves Dias tenta abrir duas portas e depois entra no gabinete”, relata reportagem da emissora.

“Após alguns minutos, o ministro aparece caminhando pelo mesmo corredor com alguns invasores. As imagens sugerem que ele indica a saída de emergência ao grupo de criminosos. Em seguida, surgem nas imagens outros integrantes do GSI, que parecem indicar também o caminho de saída para os invasores que estavam no terceiro andar do Palácio do Planalto”, relatou ainda a CNN Brasil.

O terceiro andar é onde fica o gabinete de Lula, que não estava no local no momento da invasão, realizada em um domingo.

As imagens mostram até mesmo um dos funcionários do GSI dando água mineral para os invasores.

Imagens mostram Gonçalves Dias caminhando próximo à Presidência durante invasão ao Planalto. Foto reprodução

Em entrevista ao canal de TV Globo News após a demissão, Gonçalves Dias disse que colocou seu “cargo à disposição do presidente da República para que toda a investigação seja feita”.

Dias se defendeu afirmando que suas ações e da equipe naquele dia tiveram o objetivo de tirar os invasores de locais sensíveis e levá-los ao segundo andar para serem presos.

“Eu entrei no palácio depois que o palácio foi invadido e estava retirando as pessoas do terceiro piso e do quarto piso para que houvesse a prisão no segundo”, afirmou.

“Na sala ao lado (da sala) do presidente, eu retirei três pessoas que estavam lá dentro e mandei descer pro segundo (andar). Eu fui verificar se as portas estavam fechadas e se não houve nenhuma depredação lá dentro.”

“Prendemos mais 250 pessoas pessoas aqui dentro, que invadiram, que depredaram tudo. Minha amiga, ninguém fala, mas nós preservamos praticamente o terceiro piso todinho — o coração do Planalto, que é a sala do presidente, ela foi preservada.”

O ex-ministro defendeu também que condutas como a do funcionário que foi filmado distribuindo água aos invasores sejam punidas.

“Aquilo é um desvio de atitude”, disse, referindo-se à cena.

Ainda assim, Dias defendeu que a escolha de imagens como essa, de um funcionário distribuindo água, foi seletiva demais.

“O major distribuindo águas a manifestantes, fizeram um corte específico na produção dos vídeos que vocês olharem (sic). Aquilo é um absurdo para minha imagem. Veja o seguinte, minha querida, eu tenho 44 anos de profissão no Exército Brasileiro. Sempre pautei a minha vida em cima dos valores éticos e morais”, argumentou.

“Eu não sei (de) onde vazou”, disse, acrescentando que outros órgãos tinham as imagens por conta de processos, como a Polícia Federal, a Polícia Militar, o Ministério Público e o Comando Militar do Planalto.

As gravações deram fôlego para o discurso de parlamentares bolsonaristas, que acusam o governo Lula de não ter protegido adequadamente o Palácio do Planalto para, supostamente, facilitar a atuação dos invasores.

Eles já têm assinaturas suficientes para a abertura de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar os ataques às sedes do Três Poderes, em 8 de janeiro, mas a instalação órgão depende de um ato oficial do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), aliado do Palácio do Planalto.

Logo após os ataques, algumas imagens da atuação dos radicais dentro do palácio chegaram a ser divulgadas pelo governo, mas o GSI determinou sigilo de cinco anos sobre e totalidade das gravações.

Segundo reportagem do portal G1, a situação do agora ex-ministro foi agravada porque o próprio Lula teria solicitado a Dias imagens da atuação dos vândalos em frente ao gabinete presidencial, mas ele teria respondido que as imagens estavam indisponíveis.

Proximidade com Lula

Dias foi escolhido para comandar o GSI porque contava com a confiança de Lula. Ele chefiou a segurança do petista em seus dois primeiros mandatos (2003-2010), quando recebeu o apelido de “sombra”, por sua proximidade constante com o presidente.

Apesar de Dias ter sido nomeado por Lula, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) destacou em nota divulgada nesta quarta-feira a presença de oficiais remanescentes do governo Bolsonaro na equipe do GSI, quando houve a invasão.

“A violência terrorista que se instalou no dia 8 de janeiro contra os Três Poderes da República alcançou um governo recém-empossado, portanto, com muitas equipes ainda remanescentes da gestão anterior, inclusive no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que foram afastados nos dias subsequentes ao episódio”, disse o comunicado.

A Secom ressaltou ainda que a PF tem as imagens da invasão e está “investigado e realizado prisões de acordo com ordens judiciais (do STF)”.

“Dessa forma, todos os militares envolvidos no dia 8 de janeiro já estão sendo identificados e investigados no âmbito do referido inquérito. Já foram ouvidos 81 militares, inclusive do GSI”, acrescenta a nota.

Pacheco cobrou punição

Rodrigo Pacheco e  Lula – Foto EPA

Rodrigo Pacheco, defendeu punição de qualquer agente leniente no 8 de janeiro

Antes da demissão do ministro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, defendeu a punição de qualquer agente leniente no 8 de janeiro.

“Se houve algum tipo de leniência, se houve algum tipo de tolerância, com essas invasões que não eram manifestações, o tratamento deveria ser de atos criminosos”, afirmou durante viagem oficial a Londres.

Já o GSI anunciou em uma nota que as condutas dos agentes envolvidos “estão sendo apuradas em sede de sindicância investigativa instaurada no âmbito deste ministério”.

O comunicado diz ainda que, “se condutas irregulares forem comprovadas, os respectivos autores serão responsabilizados”.

Por outro lado, o órgão tentou justificar a atuação dos oficiais.

“O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República esclarece que as imagens mostram a atuação dos agentes de segurança que foi, em um primeiro momento, no sentido de evacuar os quarto e terceiro pisos do Palácio do Planalto, concentrando os manifestantes no segundo andar, onde, após aguardar o reforço do pelotão de choque da PM/DF, foi possível realizar a prisão dos mesmos”, informou em nota (BBC Brasil, 19/4/23