Jornal do Meio Dia
Papa Francisco morre aos 88 anos e deixa legado de humildade, diálogo e transformação na Igreja Católica

O mundo se despede de um dos líderes religiosos mais carismáticos e influentes da era contemporânea. Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, faleceu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, em Roma, após 38 dias de internação no hospital Gemelli. A causa da morte foi uma pneumonia bilateral, consequência de uma bronquite que o acometia desde fevereiro.
Francisco foi o primeiro papa jesuíta e latino-americano da história da Igreja Católica. Sua eleição, em 2013, já representava uma quebra de paradigmas, mas foi seu pontificado, pautado pela simplicidade, compaixão e abertura ao diálogo, que o consagrou como um símbolo de renovação. Ao escolher o nome de Francisco — uma homenagem a São Francisco de Assis — deixou claro seu compromisso com os pobres, com o cuidado da criação e com a busca por uma Igreja mais próxima das pessoas.
Na véspera de sua morte, debilitado, o Pontífice ainda fez questão de aparecer na sacada da Basílica de São Pedro para a tradicional bênção de Páscoa Urbi et Orbi, onde proferiu sua última mensagem pública à Igreja e ao mundo. Ele faleceu às 7h35, pelo horário de Roma (2h35 de Brasília).
Em comunicado oficial, o Vaticano declarou:
“O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja.”
Um Papa que rompeu tradições
Desde o início de seu pontificado, Francisco marcou seu estilo por gestos de humildade — como trocar o luxuoso Palácio Apostólico por uma residência simples no Vaticano — e por discursos firmes sobre justiça social, meio ambiente e direitos humanos. Foi um líder espiritual que aproximou a Igreja dos marginalizados, imigrantes e excluídos, levando uma mensagem de misericórdia em tempos de crise e polarização.
Sua encíclica Laudato Si’, lançada em 2015, tornou-se um marco na discussão sobre as mudanças climáticas e o papel da humanidade na preservação do planeta. Ao mesmo tempo, sua defesa do diálogo inter-religioso e sua visita histórica ao Iraque, em 2021, reforçaram seu compromisso com a paz entre os povos e religiões.
Uma trajetória de fé e serviço
Nascido em Buenos Aires, Argentina, em 17 de dezembro de 1936, Jorge Bergoglio era filho de imigrantes italianos. Entrou para a Companhia de Jesus aos 22 anos e foi ordenado padre em 1969. Durante a ditadura militar argentina, adotou uma postura cautelosa, mas sempre se manteve firme na defesa da dignidade humana.
Assumiu como arcebispo de Buenos Aires em 1998, depois de ser nomeado bispo auxiliar em 1992. Seu trabalho pastoral nas periferias da capital argentina e seu envolvimento com os pobres chamaram atenção dentro e fora da Igreja. Em 2001, foi nomeado cardeal por João Paulo II, o que o levou a participar de importantes conclaves e sínodos, onde sua visão de uma Igreja mais inclusiva e acessível foi ganhando força.
O legado de um líder global
Durante seus mais de 10 anos como Papa, Francisco enfrentou resistências internas, crises institucionais e desafios políticos. Ainda assim, manteve-se firme em seu propósito de promover uma Igreja voltada ao Evangelho na prática: acolhedora, compassiva e atuante nas dores do mundo.
O Pontífice protagonizou momentos emblemáticos, como a abertura do Sínodo da Amazônia em 2019, ladeado por representantes indígenas, e o encontro com líderes muçulmanos e judeus, em nome da fraternidade universal. Recebeu refugiados, visitou prisões e hospitais, e nunca deixou de exortar os cristãos a irem às “periferias existenciais”.
Nos últimos anos, mesmo fragilizado pela saúde, Francisco continuou ativo, encontrando líderes mundiais, visitando comunidades e defendendo causas urgentes, como o combate à pobreza e as ações contra o aquecimento global.
Seu pontificado, marcado por gestos concretos e palavras que tocaram o coração de milhões, será lembrado como um divisor de águas na história da Igreja Católica. Papa Francisco deixa como herança uma mensagem de amor, esperança e compromisso com os que mais sofrem — um farol de humanidade em tempos de escuridão.
“A verdadeira força de um líder está em sua capacidade de servir”, dizia ele. E foi assim que viveu até o fim.