Jornal do Meio Dia
Obesidade infantil avança no mundo e alerta para falhas em políticas públicas, aponta relatório da UNICEF e OMS
Um relatório divulgado pela UNICEF e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que o número de crianças e adolescentes com obesidade já supera o de crianças magras em quase todo o mundo. Segundo o documento “Alimentando o Lucro: Como os Ambientes Alimentares Estão Falhando com as Crianças”, uma em cada cinco crianças entre 5 e 19 anos está com sobrepeso ou obesidade, sendo que mais de 80% desse público vive em países de baixa e média renda.
O estudo aponta que o avanço da obesidade é consequência direta de ambientes alimentares considerados “tóxicos”, marcados pelo consumo elevado de ultraprocessados, publicidade direcionada ao público infantil e ausência de políticas públicas eficazes. O tema foi debatido no 25º Congresso Brasileiro de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, acompanhando um cenário que preocupa especialistas.
Entre os profissionais que analisam os impactos da obesidade infantil está o cirurgião bariátrico Heitor Consani, médico responsável técnico do Hospital Amhemed. Ele ressalta que o dado representa um ponto crítico. Para o especialista, doenças como diabetes, hipertensão, apneia do sono e síndrome metabólica, antes comuns apenas na vida adulta, estão chegando cada vez mais cedo às escolas. Consani avalia o fenômeno como reflexo de falhas coletivas na educação alimentar, nas políticas públicas e na atenção à saúde.
Segundo o médico, o ambiente no qual a criança cresce é determinante. Ele aponta fatores como oferta de ultraprocessados em escolas, substituição de refeições por tempo excessivo em telas e estratégias de publicidade que associam produtos açucarados ao afeto. Para Consani, esses elementos formam “ambientes alimentares doentes”, que favorecem escolhas inadequadas e consolidam hábitos prejudiciais à saúde.
O cirurgião também relata um aumento de adolescentes com obesidade grave buscando tratamento cirúrgico, situação que exige rigor na avaliação. Ele explica que a cirurgia bariátrica nessa faixa etária só é indicada em casos excepcionais, como IMC acima de 40, ou acima de 35 quando há doenças graves associadas, além da necessidade de comprovação de maturidade física e emocional.
Consani afirma que a reversão desse cenário depende de ações integradas. Para ele, o enfrentamento da obesidade não se limita ao tratamento, mas envolve mudanças diárias no ambiente e na educação alimentar. O médico reforça que ambientes saudáveis e linhas de cuidado estruturadas são essenciais para proteger as próximas gerações.
