Jornal do Meio Dia
21 de Abril: Dia de Tiradentes convida brasileiros à reflexão sobre liberdade e cidadania

21 de Abril: Feriado de Tiradentes resgata a história de luta e resistência que moldou a identidade do Brasil
Data nacional presta homenagem a Joaquim José da Silva Xavier, figura central da Inconfidência Mineira, símbolo da luta contra a opressão e precursor dos ideais republicanos no país
O feriado de 21 de abril, conhecido como o Dia de Tiradentes, é uma das datas mais emblemáticas do calendário cívico brasileiro. Celebrado em todo o território nacional, o dia presta homenagem a Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, personagem central da Inconfidência Mineira — movimento que, no final do século XVIII, ousou desafiar a dominação da Coroa portuguesa e sonhar com um Brasil livre, justo e soberano.
Em 2025, a data cairá numa segunda-feira, configurando um fim de semana prolongado. Mais do que um simples feriado, o Dia de Tiradentes representa uma oportunidade para que os brasileiros reflitam sobre a trajetória de um dos maiores símbolos da luta pela liberdade, bem como sobre o papel da cidadania na construção de um país mais democrático.
Quem foi Tiradentes: o homem por trás do mito
Nascido em 1746, em uma fazenda no atual município de Ritápolis (MG), Joaquim José da Silva Xavier ficou conhecido pelo apelido de Tiradentes por exercer a profissão de dentista. Autodidata, também atuou como comerciante, minerador e militar. Sua trajetória foi marcada pela inquietação diante das injustiças sociais e dos abusos cometidos pela administração colonial portuguesa.
Durante sua atuação como alferes do exército, Tiradentes circulava entre Vila Rica (atual Ouro Preto) e o Rio de Janeiro, conectando-se com outros intelectuais, mineradores e membros da elite que estavam insatisfeitos com o modelo de exploração imposto pela Coroa. Inspirado pelos ideais iluministas e pelos movimentos revolucionários da época, como a Independência dos Estados Unidos, Tiradentes passou a defender a criação de uma república independente, com impostos mais justos, acesso à educação e desenvolvimento econômico local.
A Inconfidência Mineira: contexto e objetivos
O movimento da Inconfidência Mineira teve início em 1789, em um período em que Minas Gerais era o centro econômico do Brasil colonial, impulsionado pela mineração de ouro e diamantes. Apesar da riqueza produzida, a maior parte do lucro era enviada para Portugal. A população local sofria com a cobrança de tributos pesados, como o famoso “quinto” — que exigia 20% de todo o ouro extraído — e a derrama, uma cobrança forçada e violenta de impostos atrasados.
Foi nesse contexto que um grupo de conspiradores, do qual Tiradentes foi um dos principais articuladores, passou a planejar uma revolta contra a Coroa portuguesa. Entre os principais objetivos do movimento estavam:
A formação de uma república independente em Minas Gerais;
A eliminação ou redução dos impostos coloniais;
A criação de uma universidade que garantisse a formação de cidadãos livres e instruídos;
A industrialização da região, com foco na produção de tecidos e autonomia econômica.
No entanto, a conspiração foi denunciada por Joaquim Silvério dos Reis, que traiu os companheiros em troca de favores da Coroa. Os envolvidos foram presos, interrogados e julgados em um processo que se estendeu por anos.
A execução e o nascimento de um mártir
Enquanto vários inconfidentes receberam penas mais brandas, como o exílio, Tiradentes foi o único condenado à morte. Ele assumiu toda a responsabilidade pela conspiração e não delatou seus companheiros. Sua execução ocorreu em 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, e foi realizada em praça pública como forma de intimidação a possíveis novos revoltosos.
Após o enforcamento, seu corpo foi esquartejado, e partes foram enviadas a diferentes localidades de Minas Gerais, para serem expostas como exemplo. Apesar da tentativa de apagar sua memória, o que ocorreu foi o contrário: Tiradentes se transformou em um símbolo nacional da luta pela liberdade e pela justiça.
Tiradentes e a República: o resgate da memória
Durante o período imperial, a memória de Tiradentes foi silenciada. Somente após a Proclamação da República, em 1889, é que sua figura passou a ser resgatada e valorizada como herói nacional. Os republicanos viam em Tiradentes um precursor de seus ideais e passaram a homenageá-lo em nomes de praças, escolas, avenidas e em representações artísticas — geralmente com longos cabelos e barba, uma imagem quase messiânica.
O feriado nacional de 21 de abril foi instituído oficialmente em 1965, já no período do regime militar, reforçando a importância simbólica de Tiradentes na construção da identidade brasileira e no fortalecimento dos valores cívicos.
Celebrações e legado cultural
21A cidade de Ouro Preto (MG), principal cenário da Inconfidência Mineira, realiza anualmente eventos cívicos, desfiles militares, encenações históricas e palestras que atraem estudantes, pesquisadores e turistas de todo o país. O Museu da Inconfidência, instalado no antigo prédio da Câmara e Cadeia de Vila Rica, guarda documentos, objetos e obras de arte que ajudam a preservar a memória do movimento.
Tiradentes segue sendo lembrado como um exemplo de coragem, resistência e idealismo. Seu legado vai além do passado: serve de inspiração para reflexões atuais sobre democracia, cidadania e justiça social. Professores, historiadores e lideranças sociais destacam que o Dia de Tiradentes não deve ser apenas um dia de folga, mas sim uma oportunidade para discutir o papel de cada cidadão na construção de um país mais justo, igualitário e livre.